Aberto inquérito a praxe abusiva em Coimbra com nudez e agressão

Denúncias por carta alertaram a Escola Superior de Educação de Coimbra que está a averiguar. BE questionou o Ministério do Ensino Superior sobre o caso

Ministro "repudia as imagens degradantes que as praxes académicas transmitem à sociedade"

Foi através de denúncias anónimas que a direção da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) tomou conhecimento de alegadas praxes abusivas que terão ocorrido em setembro com alunos daquela instituição de ensino superior. Nas cartas que chegaram à escola, é denunciado que alunas foram alvo de uma praxe, tendo sido agredidas com gelo e obrigadas a beber. Um dos elementos que liderava a praxe, segundo uma denúncia, estava todo nu.

O inquérito está em curso para apurar o que se passou e, segundo o Jornal de Notícias, no despacho de abertura de inquérito são reproduzidos excertos de cartas, uma de seis alunas do primeiro ano da ESEC, outra de apenas uma estudante, que foram enviadas à associação de estudantes. Os acontecimentos terão ocorrido durante um evento denominado "Missa do Caloiro", que se terá realizado numa discoteca da cidade. O evento foi organizado pela Real Tertúlia Bubones, uma comissão de praxe.

"Fomos mandadas estar de quatro, de olhos no chão, depois mandaram-nos estar de perninhas à chinês. O (...) ficou nu (todo nu) durante algum tempo e sempre com conversas menos próprias. Chegaram também a atirar gelo para cima das caloiras e acabaram por acertar numa rapariga seriamente", lê-se numa das cartas.

"Isto não é integração, mas sim humilhação e algo que nós não queremos ter na nossa vida académica (...) Temos consciência que isto não é uma situação de Meco (AINDA!) e pedimos a vossa ajuda [da associação de estudantes] no sentido de mudança e de organização da integração", conclui uma das missivas.

A escola garante que, apesar de a alegada praxe ter sido realizada fora das instalações, envolveu estudantes da escola, "que foram colocados nas situações descritas em função da sua ligação à ESEC". E por isso vai investigar.

Em declarações à TVI24, Diogo Picão, o líder da Real Tertúlia Bubones, confirmou que teve conhecimento das duas cartas, mas diz estar "de consciência tranquila". "Toda a gente percebeu o que aconteceu", disse este aluno, classificando o conteúdo de ambas as missivas de "calúnias".

Entretanto, o Bloco de Esquerda enviou já ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior um conjunto de questões sobre a realização da praxe "particularmente abusiva", no dia 13 de setembro, na ESEC.

DN 02 Novembro 2018