Ensino Superior. Os cursos com mais empregabilidade na hora de escolher

Profissões ligadas às tecnologias de informação vão continuar em crescimento nos próximos anos. Também o turismo é uma boa opção.

Pousadas as canetas e arrumados os livros, é hora de os alunos do ensino secundário fazerem planos à vida e ao futuro. Na quinta-feira, dia 12, são divulgados os resultados da primeira fase dos exames nacionais. Menos de uma semana depois, dia 18, arrancam as candidaturas ao ensino superior. O curso de sonho nem sempre corresponde a um emprego de sucesso e, por isso mesmo, é imperativa uma análise não só das aspirações pessoais mas também das condições reais de mercado.

O Dinheiro Vivo falou com vários especialistas de recrutamento e emprego de forma a perceber quais as profissões que são sinónimo de empregabilidade e crescimento nos próximos anos. As áreas de saúde, ciências, engenharias e matemáticas lideram o topo das escolhas. As vertentes ligadas à tecnologia, como engenharia de software, data science, analytics ou machine learning traduzem-se em apostas quase ganhas, devido à escassez destes recursos no mercado laboral.

A procura deverá crescer a uma taxa de 5%, em Portugal, nos próximos dois anos, de acordo com dados da consultora Deloitte. Energias renováveis, marketing digital, e-commerce e gestão de sistemas de informação são também referidas como escolhas que devem estar em cima da mesa no momento de delinear trajetórias laborais.

Por outro lado, há opções que fazem soar o sinal de alarme. “Nos próximos três a cinco anos não se vão sentir alterações na empregabilidade dos cursos de Ciências Sociais e Humanas, que atualmente contam com elevadas taxas de desemprego, em muitos casos superiores a 50%”, alerta o partner da Deloitte Portugal, Sérgio do Monte Lee. Optar por uma vertente ligada a este espetro, como disciplinas de comunicação, filosofia ou serviço social não é, ainda assim, sinónimo garantido de fracasso. “O risco de escolha de um curso, face à empregabilidade, depende essencialmente da personalidade, contexto e capacidades técnicas de cada candidato. Os candidatos com cursos nas áreas das ciências sociais são os que precisam de mais trabalho para se destacarem ou para se colocarem em posições com melhores condições”, refere Edgar Campos, country manager da Unono em Portugal. Também os dados do relatório conhecido esta semana da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, divulgado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), referentes à empregabilidade dos cursos destacam o sucesso dos alunos que enveredam por medicina, enfermagem ou engenharias (ver quadro). Turismo emprega 90% Está fora do leque de hipóteses da maioria dos jovens na altura de escolher uma profissão mas é um dos setores que mais absorve mão-de-obra atualmente.

A taxa de empregabilidade dos alunos formados pelas escolas do Turismo de Portugal foi de 90% no ano passado, segundo o estudo de inserção profissional divulgado pela mesma entidade. “Temos falta de pessoas, o turismo precisa de uma mão-de-obra intensiva e especializada, e com o crescimento do turismo há menos mão-de-obra disponível”, garante o presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo. Os cursos de Técnicas de Cozinha e Pastelaria e o de Gestão Hoteleira em Restauração e Bebidas registaram os valores mais elevados de empregabilidade, com 94% e 95% respetivamente. A necessidade de qualificar mais recursos para fazer face ao boom do setor é uma constante. “60% dos recursos humanos que trabalham no turismo têm o ensino básico. O nosso objetivo é daqui a dez anos inverter esta situação e que 60% dos trabalhadores tenham, pelo menos, o ensino secundário e o ensino técnico-profissional. Porque é isto que nos vai permitir sermos mais competitivos a nível internacional”, adianta Luís Araújo. Para além do ensino profissional, também no ensino superior há várias especializações na área do turismo que incluem opções como gestão hoteleira, gestão turística ou produção alimentar. Adquirir competências A frequência universitária faz parte da preparação para o mercado laboral mas, segundo os especialistas, a tónica não deve recair sozinha neste ponto. “É preciso investir em outro tipo de aptidões mais transversais, como marketing pessoal, comunicação ou capacidade comercial, que certamente irão aumentar a performance em processos de recrutamento futuros”, enumera o consultor da Michael Page Finance, Fábio Alves.

A visão é partilhada por Edgar Campos, que refere os estágios de verão, as viagens e o voluntariado como experiências enriquecedoras do currículo profissional. Miguel Gonçalves, comandante executivo da Spark, destaca ainda a necessidade de tirar o pulso ao mercado laboral previamente “não apenas para conhecer diferentes funções e culturas organizacionais mas também para começar a antecipar o ritmo do próprio mercado de trabalho”.

“É também fulcral trabalhar bem as soft skills, algo que as empresas valorizam cada vez mais”, acrescenta Ana Cruz, project leader da Hays Talent Solutions. A velocidade do crescimento e das mudanças nas várias profissões devem fazer parte do horizonte dos alunos que agora se candidatam ao ensino superior. Mais do que aprender uma profissão, é imperativo desenvolver aptidões extra que permitam uma adaptação camaleónica aos vários desafios futuros. “É necessário desenvolver competências comportamentais relacionadas com o trabalho em equipa, a abertura à mudança e flexibilidade. A crescente velocidade da disrupção tecnológica faz que determinadas competências técnicas passem a ser obsoletas muito rapidamente, pelo que a flexibilidade e a capacidade de se reinventar será fundamental neste novo contexto de emprego”, conclui Sérgio do Monte Lee.

Rute Simão 08.07.2018 Dinheiro Vivo