"É um privilégio interagir com os professores e os estudantes"

21-12-2022 | Paula Mesquita | Fotos: Nuno Gonçalves

Susama Martins 1

Veio em 2000 para a UMinho fazer o seu estágio do curso profissional em Técnico de Secretariado e foi convidada a ficar

Em 2008, mudou-se do Instituto de Letras e Ciências Humanas para o Instituto de Ciências Sociais, onde é assistente técnica

Considera-se uma pessoa solidária e juntou-se - há cinco anos e com o filho nos Escuteiros - às causas do Banco Alimentar

Susana Martins

Nasceu há 41 anos em Braga e vive em Prado, Vila Verde, que considera também sua terra. Veio para a UMinho, "ainda verdinha”, estagiar no então Instituto de Letras e Ciências Humanas. Depressa se revelou boa profissional - ou não teria sido convidada a ficar nem contaria já com 22 anos nesta casa e com uma licenciatura pelo meio. A assistente técnica coordena a gestão dos cursos de 2º ciclo do Instituto de Ciências Sociais, entre outras funções.

O seu primeiro contacto com a UMinho foi no âmbito de um estágio profissional. Como se proporcionou?

A primeira oportunidade de trabalho concretizou-se, em 2000, no Instituto de Letras e Ciências Humanas (ILCH, atualmente Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas), no âmbito de um estágio profissional decorrente do curso que me encontrava a frequentar – Técnico de Secretariado, da Escola Profissional de Braga. O estágio teve a duração de um mês, durante o qual desempenhei diversas funções de apoio aos Serviços Administrativos do ILCH.

No final do estágio, foi convidada para ficar a trabalhar nos mesmos serviços. Como se sentiu?

Terminado o estágio, a então secretária do ILCH, dra. Conceição Caldas, convidou-me para prosseguir as mesmas funções que tinha desempenhado durante o estágio, uma vez que tinha o perfil adequado para o serviço. Comecei então a trabalhar ali em setembro do mesmo ano. Fiquei muito contente com o telefonema da dra. Conceição, significava que eu tinha dado sinais de ser uma boa profissional. Ao mesmo tempo, baralhou-me os planos de futuro e deixou-me confusa, uma vez que a minha intenção era dar continuidade aos estudos. Depois, em conversa com os meus pais, percebi que ingressar no ensino superior seria sempre possível, mesmo estando a trabalhar e, então, decidi aceitar o convite.

Como foi o seu percurso profissional desde então?

Desempenhei funções no ILCH, como assistente administrativa, entre setembro de 2000 e outubro de 2008.  A partir daí iniciei funções, como assistente técnica, no Instituto de Ciências Sociais, onde continuo a trabalhar. Estou responsável pela gestão dos cursos de 2º ciclo do Instituto e desempenho diversas funções relacionadas com o apoio e o aconselhamento administrativo aos diretores/comissões de curso, a organização dos procedimentos administrativos relativos à realização de provas de mestrado e respetivo acompanhamento, o tratamento e encaminhamento dos processos de candidaturas a curso de mestrado, o registo na respetiva plataforma da seriação e seleção dos candidatos aos cursos de mestrado, incluindo apoio às comissões de curso na elaboração das atas e submissão aos órgãos competentes para aprovação, assegurando toda a tramitação posterior, a instrução dos pedidos de creditação da formação e experiências prévias, o registo da informação das teses no RENATES (Registo Nacional de Teses e Dissertações) e envio para os Serviços de Documentação e Bibliotecas, o atendimento aos estudantes, entre outras.

O que mais gosta no seu trabalho?

Sinto-me extremamente realizada a desenvolver estas funções. Considero um privilégio e um orgulho poder interagir com o público docente e discente e poder contribuir para o bom funcionamento do serviço. Gosto de dar sempre o meu melhor contributo em prol da satisfação das pessoas que diariamente recorrem ao meu serviço e, fundamentalmente, em prol da Instituição onde trabalho.
Ingressou na licenciatura em Educação, em 2017/2018, através do concurso especial para maiores de 23 anos. Que razões a levaram a voltar a estudar?

Foi um sonho que fui adiando. Inicialmente, pelo facto de ter começado logo a trabalhar e com muitas atribuições que me impediam de conseguir conciliar o trabalho e o estudo. Queria ter disponibilidade total para me inteirar das tarefas que me foram atribuídas e desenvolvê-las bem. Depois, por razões pessoais: precisei de reunir condições familiares que me possibilitassem ter disponibilidade para estudar. Senti muito orgulho quando ingressei em Educação, porque era a minha primeira opção e estava a realizar um sonho, 18 anos depois. Foi desafiante, porque conciliava os estudos com a profissão e a vida familiar, mas foi muito gratificante para mim. Adorei ter voltado a estudar!

A solidariedade está-lhe no sangue

Começou também a colaborar com o Banco Alimentar. Em que iniciativas se envolve?

Associei-me a esta iniciativa há cinco anos, pela mesma altura que o meu filho ingressou nos Escuteiros. Sempre que organizam ações solidárias, como é o caso da recolha de alimentos, tento juntar-me e dar o meu contributo.

O que a motiva?

Não consigo ficar indiferente às dificuldades do Outro. Mesmo no meu dia a dia, tento estar atenta às necessidades e momentos difíceis dos que me rodeiam e, sempre que possível, procuro ajudar, mesmo que seja com um pequeno gesto, mas que pode ser importante na vida daquela pessoa. Ser solidário envolve um sentimento de identificação para com a situação dos outros.

Considera que na época natalícia as pessoas ficam mais sensíveis perante as desigualdades e as necessidades do próximo?

Vivemos o nosso quotidiano muitas vezes demasiado focados nos problemas e não nos damos conta das necessidades das pessoas com quem nos cruzamos ou que nos são próximas. A época natalícia é propensa a que nos sintamos mais sensíveis, pelo simbolismo que tem e pelo que representa. Por mais pequeno que seja o nosso gesto, a verdade é que, felizmente, pelo menos nesta época, todos temos mais consciência de que poderá mudar a vida de uma pessoa ou de uma família. Pequenos gestos mudam vidas e isso, para mim, é o mais gratificante.

Nos últimos meses fala-se em crise, aumento da pobreza, dificuldades… Haverá também mais pessoas a querer ajudar?

Estamos a viver tempos realmente difíceis, mesmo para quem em teoria vive confortavelmente. Além de dificuldades económicas generalizadas, vivemos em grande tensão pela exigência de fazer mais e de dar resposta a muitas expectativas. Por outro lado, a crise pandémica e a guerra na Ucrânia contribuíram para criar um clima angustiante, que aumenta significativamente as nossas preocupações. Penso que estamos, por causa deste contexto, globalmente mais sensíveis aos problemas comuns. Mas seria bom que os movimentos de solidariedade que surgem não fossem apenas iniciativas pontuais. Às vezes, mobilizamo-nos momentaneamente, mas depois temos dificuldade em manter os gestos de solidariedade todos os dias.

Algumas características suas

  Um livro. “Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra”, de Mia Couto. Admiro-o como escritor realista.

  Um filme. “Into the wild”, de Sean Penn.

  Uma música. Várias. Adoro ouvir música e de vários estilos, depende do meu estado de espírito.

  Uma figura. A minha mãe, pela sua resiliência.

  Um passatempo. Ir ao cinema.

  Uma viagem. Gostava de conhecer todos os países a que ainda não tive o privilégio de ir.

  Um prato. Todos os pratos tradicionais portugueses.

  Um momento. O nascimento do meu filho.

  Um defeito. Não conseguir dizer “não”.

  Um sonho. Que no mundo reinasse a paz.

  Um lema. “Faz o bem não olhes a quem”. Ser solidária.

  A UMinho. É um orgulho fazer parte desta comunidade.