Morreu Amadeu Carvalho, um dos fundadores da associação que protegeu Bracara Augusta e Tibães

Amadeu Carvalho foi um dos fundadores da associação de defesa do património de Braga e era quem estabelecia o diálogo com as instituições.

Foto de 1976. Amadeu Carvalho é o quinto a contar da esquerda

Amadeu Carvalho, um dos fundadores da Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural (Aspa), morreu esta terça-feira aos 83 anos. Formado em Direito, foi o autor dos estatutos da associação, criada em 1977 para defender o património cultural e natural de Braga.

A relação de Amadeu Carvalho com a salvaguarda do património bracarense surgiu em 1975, ano em que chegou à Universidade do Minho para ser assessor jurídico e conheceu Henrique Barreto Nunes, outro dos fundadores da Aspa.

Apesar de ser natural de Melgaço e de ter passado parte da vida em Lisboa e Angola, Amadeu Carvalho associou-se à luta pela defesa do património bracarense porque percebeu que era urgente “intervir e alertar a sociedade relativamente à destruição do património arqueológico de Bracara Augusta, no alto da Cividade e na colina de Maximinos”, lembra ao PÚBLICO Henrique Barreto Nunes.

Com o apoio de Lloyd Braga, então reitor da Universidade do Minho, Amadeu Carvalho, Henrique Barreto Nunes e mais cinco cidadãos criaram, em 1976, a Comissão de Defesa e Estudo do Património (Codep), que viria a originar a Aspa. Enquanto “braço armado da Universidade”, a Codep tinha, no seu seio, alguns membros com uma postura “mais exuberante” e o papel de Amadeu Carvalho foi o de “estabelecer o equilíbrio e encontrar espaço para o diálogo” entre a Codep e os órgãos decisores. “Ele tinha formação jurídica, o que nos ajudou muito, e era uma pessoa cordata, que continha um pouco da impulsividade dos mais jovens. Era ele quem falava com a Câmara Municipal, numa primeira instância, e, numa segunda, com a Junta Nacional de Educação e o Ministério da Cultura, que tutelavam o património”, recorda Henrique Barreto Nunes.

No grupo dos “jovens com sangue na guelra no pós-25 de Abril” incluía-se Henrique Barreto Nunes mas também Eduardo Pires de Oliveira, outro dos sócios fundadores. Pelas batalhas que, à época, travavam contra a autarquia, houve quem lhes chamasse os “maiores inimigos” de Mesquita Machado, presidente da Câmara de Braga entre 1976 e 2013. E a Amadeu Carvalho coube o papel de mediador. “Tínhamos uma intervenção forte na imprensa e o Amadeu, apesar de ter estado sempre de acordo connosco, achava que devíamos ser mais calmos. Hoje concordo com ele…”, lembra Eduardo Pires de Oliveira, para quem Amadeu Carvalho era uma “pessoa afectiva e ponderada”.

Antigo chefe de gabinete do ministro da Educação Veiga Simão, Amadeu Carvalho tornou-se o sócio número dois da Aspa, tendo sido o autor dos estatutos da associação. Mais tarde, chegou a ser presidente da associação e foi director da Mínia, a revista da associação, durante cinco anos, tendo-se mantido como sócio da Aspa. No início do presente século, afastou-se da actividade da associação por causa de problemas de saúde.

Ao PÚBLICO, o actual presidente da associação, Armando Malheiro, lamentou a morte de mais “um dos fundadores” e lembra o papel “activo” de Amadeu Carvalho na “luta que foi instaurada” pela Aspa. Criada há 45 anos, a Aspa bateu-se, entre outros, pela salvaguarda de Bracara Augusta, pelo processo de aquisição do Mosteiro de Tibães pelo Estado e pela classificação do parque monumental das Sete Fontes enquanto monumento nacional.

Pedro Manuel Magalhães 20 de Julho de 2022, Público