Fraude na AIMinho. Investigadora da UMinho garante que estudo científico foi concluído

Ministério Público afirma o contrário

A investigadora da Universidade do Minho, Margarida Casal garantiu, na quarta-feira, ao Tribunal de Braga, no julgamento do processo da antiga Associação Industrial do Minho a decorrer em Barcelos, que os estudos encomendados pela empresa Yeastwine – Wine Solutions, Lda, foram todos concluídos, ao contrário do que sustenta a acusação do Ministério Público.

“O estudo sobre leveduras que foi pedido pela empresa deu mesmo origem a uma tese de doutoramento que pode ser consultada”, disse, rebatendo a tese de que o trabalho teria sido pago e nunca concluído.

A professora catedrática foi, depois, confrontada pelo Procurador do Ministério Público com o teor de uma escuta telefónica entre os empresários António Marques e Isabel Araújo, onde se fala das verbas do projeto, tendo-se mostrado, ainda que de forma muito sóbria, revoltada, sublinhando que nunca soube “de contas, de repartições e devoluções”, negando, ainda, um eventual desvio dos resultados de investigação sobre leveduras para o exterior.

Atribuiu a denúncia que deu origem à investigação criminal, a uma investigadora alemã, Dorik Shulder, que abandonou o projeto e regressou à Alemanha (por causa da crise de 2008 e dos cortes salariais) e explicou, de seguida, o teor do estudo científico realizado sobre leveduras e que envolveram áreas como as de Fitopagem, Genotipagem e Fermentação.

António Marques e cientista negam

Conforme o O MINHO noticiou anteriormente, quer António Marques quer o cientista da UMinho, José António Teixeira garantiram ao coletivo de juízes que o trabalho científico foi totalmente executado e entregue. Negando, assim, o teor de acusação, segundo a qual o estudo nunca foi terminado.

O ex-diretor do Departamento de Engenharia Biológica, que é arguido no megaprocesso da AIMInho, salientou que o estudo abrangia a área das leveduras, que é relevante em termos mundiais para o setor vitivinícola. “Pretendia-se criar uma levedura com aplicação relevante para o setor e que interessava a muitas empresas, a nível nacional e internacional”, explicou.

O investigador, um dos cientistas mais relevantes a nível mundial na área da Engenharia Biológica (com artigos citados 20.175 vezes) deu, a seguir explicações sobre o contrato e a forma como foi executado, tendo também respondido às dúvidas do Ministério Público sobre o tempo e o modo em que os serviços contratados foram faturados.

Acusação

A acusação diz que, para criar a convicção de seriedade do projeto da empresa, António Marques, utilizou, por um lado, o conhecimento técnico da também arguida Isabel Araújo, mas também a credibilidade académica da Universidade do Minho”, através de um protocolo com os departamentos de Biologia e de Engenharia Biológica de 55.300 euros.

A Yeastwine apresentou, então, uma candidatura a apoios europeus, que obteve um incentivo de 247 mil euros, correspondendo à taxa de 74,03% de comparticipação. Para tal, “fez uso do chapéu institucional e do crédito académico” da UMinho.

A investigação concluiu que os professores José Teixeira e Margarida Casal, esta a chefiar o Departamento de Biologia, não efetuaram qualquer trabalho para o projeto, tendo recebido parte das verbas, e permitiram que a Yeastwine retirasse material dos laboratórios. E terão violado as regras internas de faturação.

O que José António Teixeira nega, até porque o estudo foi concluído.

Na sessão anterior, António Marques refutou que tenha havido qualquer apreensão indevida de fundos europeus e disse que a firma foi criada para fazer investigação na área das leveduras, dirigida às empresas do ramo vinícola. Justificou o acordo com aqueles departamentos da UMinho com o facto de estarem a produzir investigação aplicada sobre a matéria, a qual iria ser vertida numa plataforma própria para ser usadas por empresas do ramo. E que poderia ter impacto no setor dos vinhos a nível mundial.

O MINHO  30/06/2022