Professora da Universidade do Porto acusada de atacar colegas com garrafa de ácido

Alegada agressão foi registada pela PSP e valeu um processo disciplinar. Uma segunda queixa, desta vez por assédio, levou à suspensão da docente na semana passada.

Uma professora da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP) está a ser alvo de um processo disciplinar depois de ter sido acusada de agredir, com uma garrafa de ácido nítrico, dois colegas de trabalho num laboratório da instituição. As vítimas, um professor e uma técnica superior, sofreram ferimentos ligeiros. A docente em causa, catedrática e responsável pelo laboratório, garante que se tratou de “um acidente”. Na semana passada, uma nova queixa contra a mesma pessoa, desta vez com acusações de assédio laboral, levou a direcção da faculdade a suspendê-la de imediato de funções.

A alegada agressão remonta a 22 de Novembro do ano passado. A PSP foi chamada às instalações da faculdade, cerca das 10h30 da manhã, tendo enviado um carro patrulha da esquadra da Foz. As duas vítimas, trabalhadores da FFUP, acusaram uma colega de trabalho de ter “arremessado um frasco, que continha um ácido, que se terá partido”, avança fonte do Comando da PSP do Porto, com base na participação feita na altura.

O líquido – ácido nítrico, segundo as vítimas – atingiu uma das pessoas, uma técnica superior do laboratório, causando-lhe ferimentos ligeiros. O ácido terá também causado danos materiais no piso do laboratório. O ácido nítrico é um ácido forte, altamente corrosivo. Este químico fumega quando em contacto com o ar, sendo muito tóxico nessas circunstâncias. A segunda vítima é um professor da mesma faculdade, que sofreu cortes nos membros superiores infligidos pelos vidros do frasco partido.

A autora da alegada agressão é Paula Branquinho de Andrade, professora catedrática da FFUP e responsável pelo laboratório de Farmacognosia. A docente apresenta, porém, uma versão diferente dos acontecimentos de Novembro do ano passado. Classifica o sucedido como “um acidente”, acusando o professor e a técnica superior do laboratório que chamaram a PSP ao local de quererem “transformar esse acidente numa agressão”. “Não tenho mais nada a comentar”, acrescentou, em resposta escrita enviada ao PÚBLICO.

Na sequência da queixa apresentada logo em Novembro pelos dois trabalhadores que dizem ter sido agredidos, o director da faculdade, Domingos Ferreira, abriu “um processo de inquérito” ao sucedido, que “foi, entretanto, convertido em processo disciplinar” em que é visada Paula Branquinho de Andrade, informa a reitoria da Universidade do Porto. O processo disciplinar ainda se encontra em curso e “ainda não produziu conclusões que possam ser remetidas ao Ministério Público” para apuramento de eventuais responsabilidades criminais, avança a mesma fonte.

Suspensa de funções

A agressão de Novembro passado será o episódio mais grave de uma série de atritos entre esta professora catedrática e colegas e outros funcionários da faculdade, de acordo com depoimentos recolhidos pelo PÚBLICO. As queixas contra Paula Branquinho de Andrade têm “pelo menos uma década”, garante um trabalhador da FFUP, que pediu para não ser identificado.

O inquérito interno aberto depois da alegada agressão com uma garrafa de ácido nítrico não resultou na suspensão preventiva da professora catedrática. A acusação levou a que os comportamentos desta docente se tenham “exacerbado”, acrescenta o mesmo funcionário da instituição, que fala em “perseguição” aos denunciantes e a quem foi chamado a testemunhar no âmbito do processo disciplinar em curso.

Este trabalhador faz parte de um grupo de 15 pessoas ligadas à faculdade que entregou, na semana passada, um pedido de Intervenção Inspectiva pela prática de assédio laboral na Autoridade Para as Condições de Trabalho. “Ao longo dos anos, vários trabalhadores e colaboradores comunicaram à sua direcção os múltiplos eventos de assédio e discriminação perpetrados pela visada, no entanto nunca tomou qualquer medida ou sequer resposta”, acusam na exposição enviada ao organismo tutelado pelo Ministério do Trabalho.

Nesse documento, a que o PÚBLICO teve acesso, são apresentados exemplos de “assédio a trabalhadoras grávidas”, acusadas de “não querem trabalhar” e de “comentários depreciativos” dirigidos a trabalhadoras do sexo feminino devido às roupas ou à maquilhagem por estas usadas. A professora catedrática é acusada de usar “linguagem depreciativa como “osga”, “prostituta colombiana” ou “tipa”” nessas ocasiões. A docente é também acusada de mandar instalar fechaduras e cadeados em equipamentos de uso público no laboratório que coordena, tendo recusado entregar a chave dos mesmos aos trabalhadores que se têm queixado dos seus comportamentos.

As acusações de assédio moral e laboral enviadas à Autoridade para as Condições de Trabalho constam também de uma exposição remetida pelos trabalhadores da FFUP, também na semana passada, ao director da Faculdade de Farmácia, à Comissão de Trabalhadores da Universidade do Porto e ao próprio reitor da instituição.

Na sequência dessa participação, o director da faculdade determinou, na quinta-feira passada, a abertura de um novo procedimento disciplinar de inquérito “e a suspensão preventiva do exercício de funções” por parte da docente “pelo prazo máximo de 90 dias”, informa a universidade. Os dois processos disciplinares vão correr em simultâneo, explica a instituição.

Sobre este segundo processo, Paula Branquinho Andrade diz ao PÚBLICO não conhecer o seu conteúdo, não tendo querido pronunciar-se sobre o mesmo.

Samuel Silva - 30 de Março de 2022, Público