Acesso ao Ensino Superior 2020  Novo exame chumba mais de 40% dos alunos do profissional que queriam concorrer ao superior

Há 1096 alunos em condições de concorrer ao superior. Quase 60% tiveram positiva nos exames regionais realizados pela primeira vez no mês passado. Colocações do concurso especial conhecidas no final de Setembro.

Quase 60% dos estudantes que fizeram os novos exames de ingresso no ensino superior, pensados para quem termina um curso profissional, tiveram nota positiva. Os politécnicos e universidades que abriram vagas no âmbito deste novo concurso especial de acesso destinado a estes diplomados exigem uma nota mínima de 9,5 valores para aceitarem as suas inscrições. São, por isso, cerca de 1100 os alunos em condições de entrar num curso superior no próximo ano lectivo por esta nova via. As candidaturas acontecem em Setembro.

Inscreveram-se nestes exames 2276 estudantes, tendo comparecido às provas, realizadas na última semana de Julho, 1876 alunos (82,4%), revelam dados divulgados ao PÚBLICO pelo Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP). Foram aprovados 1096 estudantes – isto é, 58,5% do total. Tal como no concurso nacional de acesso, que continua a ser a principal porta de entrada num curso superior, aos estudantes que fizeram, no final do mês passado, estes novos exames é exigida uma nota mínima de 9,5 valores. Ou seja, só os estudantes aprovados reúnem as condições necessárias para se candidatarem ao ensino superior no próximo ano.

Estes exames foram desenvolvidos pelas instituições de ensino superior que vão receber estes estudantes. Para isso, constituíram três consórcios regionais. Os alunos podiam fazer a prova na instituição mais próxima da sua área de residência e concorrer com essa nota para todas as outras instituições desse agrupamento. A taxa de aprovação foi superior no consórcio do Centro (71,4%), que integra os politécnicos de Coimbra, Leiria, Viseu, Castelo Branco, Tomar e Guarda.

Os resultados mais baixos aconteceram no consórcio do Norte (55,4%), onde estavam os politécnicos do Porto, Cávado e Ave, Viana do Castelo, Bragança e na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. No consórcio do Sul e Ilhas (politécnicos de Setúbal, Beja, Portalegre e Santarém e universidades do Algarve, Évora e Açores) foram aprovados 60,7% dos estudantes que fizeram as provas.

O número relativamente elevado de estudantes que não conseguiram aprovação é “sinal de que estes exames foram exigentes e sem facilitismo”, valoriza o presidente do CCISP, Pedro Dominguinhos. Nos próximos meses, será feita uma análise destes resultados “prova a prova, instituição a instituição, pergunta a pergunta”, acrescenta o mesmo responsável, de modo a perceber o que pode ser melhorado no próximo ano.

Neste momento, “o balanço que fazemos é extremamente positivo”, prossegue Dominguinhos. “Este primeiro ano, permitiu testar o sistema e mostrou que somos capazes de organizar estas provas num ambiente de exame e com grande rigor”.

Pela primeira vez, os estudantes do ensino profissional tiveram exames especialmente desenhados tendo em conta as especificidades dos seus cursos, com o objectivo de responder às dificuldades que estes alunos sentiam habitualmente no concurso nacional de acesso por terem que responder a exames nacionais com conteúdos que não tinham abordado nas aulas. Apesar de o ensino profissional congregar 45% dos estudantes do ensino secundário, apenas 18% dos alunos prosseguem estudos.

As provas tinham organizações diferentes consoante a região do país em que foram realizadas. No Centro, Sul e Ilhas o exame era dividido em duas partes, a primeira com uma componente geral ou de Língua e Cultura Portuguesa e a segunda específica de uma determinada matéria. O exame de Matemática foi o mais concorrido (854 provas realizadas), seguindo-se a Biologia (327 provas) e Economia (200 provas), o que antecipa o interesse dos estudantes por aceder a cursos das áreas de Saúde, Agronomia e Gestão.

Exame de Matemática foi o mais concorrido

Além de ter sido o exame mais concorrido, o de Matemática foi também aquele em que os estudantes revelaram maiores dificuldades. Pouco mais de metade dos alunos (50,8%) tiveram nota positiva. A Português, os resultados não foram muito melhores: 51,7% dos estudantes “aprovados”. Pelo contrário, Psicologia, com 89% de notas positivas, História da Cultura e das Artes (82,5%) e Matemática para as Ciências Sociais e da Educação (76,7%) foram as provas com melhores resultados.

Estas provas de ingresso têm um peso de 30% na nota de candidatura ao concurso especial de acesso, criado para os estudantes que terminam o ensino profissional ou artístico. A média final do respectivo curso tem um peso de 50%. Os restantes 20% têm em consideração a classificação alcançada na prova final do curso profissional (prova de aptidão artística ou equivalente).

Os 1096 estudantes aprovados concorrem agora a uma das 2370 vagas em 456 cursos que foram disponibilizadas no âmbito destes concursos especiais. O facto de haver mais de duas vagas para cada estudante em condições de concorrer aumenta as possibilidades destes alunos ingressarem numa licenciatura ou mestrado integrado, mas não lhes garante à partida uma vaga. Isto porque, à semelhança do concurso nacional de acesso, cada curso tem um número limitado de lugares disponíveis.

As candidaturas decorrem, tal como o concurso nacional de acesso, na plataforma da Direcção-Geral do Ensino Superior na Internet. O prazo começa no início de Setembro e as colocações serão divulgadas na penúltima semana desse mês. O calendário definitivo será divulgado nos próximos dias pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior.

Samuel Silva - 5 de Agosto de 2020, Público