Função Pública avisa ministra sobre congelamentos: "Esta ameaça velada não ajuda nada"

A Frente Comum dos sindicatos da Administração Públicas "recusa liminarmente" a hipótese de congelamento de carreiras e a travagem nos aumentos salariais prometidos para o próximo ano. Em reação à declarações da ministra, também os sindicatos da UGT acham que as palavras de Alexandra Leitão "não fazem sentido absolutamente nenhum".

"Isto não é só bater palmas", diz José Abraão, ao Expresso. O líder da Fesap, a federação dos sindicatos dos trabalhadores do Estado ligada à UGT, reagiu assim às declarações feitas, esta segunda-feira, pela ministra da Administração Pública. Ao Jornal de Negócios e à Antena 1, Alexandra Leitão abriu a porta ao congelamento das progressões das carreiras dos funcionários públicos, assim como a travagem nos aumentos salariais, no próximo ano. O sindicalista não gostou do que ouviu. "Isto não faz sentido absolutamente nenhum", afirma ao Expresso, considerando que este não é o momento para fazer esta "ameaça velada".

A ministra não foi muito conclusiva sobre o que serão as propostas do Governo para os trabalhadores do Estado. No entanto, admitiu que as "progressões ficarem congeladas, ou diferidas, ou faseadas" eram medidas que "neste momento" não podia "excluir liminarmente”, tendo em conta o impacto que a Covid-19 está a ter sobre as contas públicas.

"Se a ministra tem dúvidas, nós temos a certeza", responde, por seu lado, o líder da Frente Comum dos sindicatos da Administração Pública, afecta à CGTP. Sebastião Santana não podia ser mais claro: "Recusamos liminarmente qualquer tentativa de travagem das progressões nas carreiras". Para o sindicalista é claro que "como se provou num passado recente, nada melhor do que aumentar salarios para a recuperação da economia. Fazer o contrário é contra-producente".

Contradizer o primeiro-ministro?

Os sindicatos estranharam tanto mais as palavras da ministra quanto os contactos com a tutela estão há três meses suspensos. Para a próxima segunda-feira está agendado o primeiro encontro entre a tutela e os sindicatos da Administração Pública, mas só o secretário de Estado estará presente e da agenda não consta nenhum ponto em específico sobre as progressões das carreiras dos trabalhadores do Estado.

Além disso,sublinha José Abraão, as palavras da ministra "parecem estar em contradição com aquilo que foi várias vezes afirmado pelo primeiro-ministro de que não seria seguida uma linha de austeridade". O sindicalista, que participou na última reunião da comissão política do PS em que António Costa "garantiu que a austeridade não é o caminho", admite agora que Alexandra Leitão "foi infeliz" na escolha das palavras e no momento para as proferir.

"Foi muito inoportuna", diz ao Expresso, sublinhando que "todos reconhecem como essencial o esforço dos trabalhadores da Administração Pública no combate à pandemia". "Num altura destas, ter como prenda esta ameaça velada não ajuda nada", conclui José Abraão, que garante que a Fesap "nunca aceitará" um recuo em matéria de progressão de carreiras. "Nós nunca pedimos nada. Foi o Governo quem se comprometeu a aumentar salários e a descongelar carreiras", recorda.

Já Sebastião Santana tem reservas quanto às promessas do Governo de não voltar a adotar medidas de austeridade, como forma de reequilibrar as contas do Estado. "Já ouvimos pessoas diferentes, dentro do Governo, a dizer coisas diferentes", diz o responsável da Frente Comum.Uma coisa é certa "fazer negociações pela Comunicação Social é impossível e viola os principios básicos". O sindicalista quer sentar-se com o Governo à mesa da negociações. O encontro está marcado para segunda feira e logo no dia seguinte a Frente Comum já tem agendada uma cimeira de sindicatos para decidir a resposta a dar pelos trabalhadores.

ROSA PEDROSO LIMA - 01.06.2020  Expresso