Politécnicos só terão aulas para número “residual” de alunos e admitem medição de temperatura à entrada

Turmas serão divididas em turnos e haverá circuitos nos corredores para reduzir o contacto. Estudantes só deverão voltar às salas em Junho.

Apenas um número “residual” de estudantes vai voltar às instalações dos politécnicos, quando as aulas presenciais forem retomadas, como é intenção do Governo. O regresso às aulas só deve acontecer em Junho. O plano dos institutos superiores implica também dividir turmas em turnos e criar circuitos nos corredores para reduzir os contactos. 

As instituições ainda estão a apurar o total de estudantes que terão mesmo que retomar as aulas. A avaliação está a ser feita “instituição a instituição”, explica o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Pedro Dominguinhos, mas esse número será sempre “residual”.

É já certo que, na maioria das disciplinas, não voltará a haver aulas este ano lectivo. Os estudantes dos politécnicos não voltarão a ter sessões teóricas presenciais e mesmo algumas “cadeiras” práticas, nas quais o ensino à distância se tem revelado eficaz, vão continuar nessa modalidade nos próximos meses.

As aulas presenciais serão retomadas apenas pelos alunos que estão no último ano dos seus cursos e também pelos estudantes que têm “cadeiras” práticas, sobretudo as laboratoriais. Os exames considerados “indispensáveis” também serão feitos presencialmente, mas o CCISP revela preocupação com a equidade entre os alunos, tendo em conta sobretudo os que vivem em zonas que, por via das medidas de contenção da covid-19, possam não ter condições para se deslocar até às instituições onde estudam.

Estas medidas foram debatidas nesta quarta-feira pelos presidentes dos politécnicos com o ministro da tutela, Manuel Heitor. No final da semana passada, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) deu indicações às universidades e politécnicos para se prepararem para um regresso “faseado” às actividades presenciais a partir de 4 de Maio. O regresso às salas de aulas nos politécnicos só deverá acontecer em Junho.

A cautela dos responsáveis do sector não se prende apenas com a evolução da situação sanitária, mas também com a necessidade de preparar a logística que será necessária a um regresso ao activo. As salas de aulas terão a sua lotação diminuída para permitir manter o distanciamento entre os alunos o que implica desdobrar turmas. Os horários também vão sofrer alterações, implicando em alguns casos aulas nocturnas, para evitar que os estudantes usem transportes públicos nas horas em que a maioria dos trabalhadores segue para os seus empregos.

Alunos, professores e funcionários terão que circular com máscaras de uso geral e outros equipamentos de protecção e serão desenhados “circuitos de circulação” nos corredores e outras zonas comuns para reduzir o contacto entre estudantes, professores e funcionários. As instituições estão ainda a definir protocolos de higienização dos edifícios.

Pedro Dominguinhos admite também que passe a ser prática corrente medir a temperatura de todas as pessoas antes de entrarem nas instalações das instituições de ensino.

Os horários também vão sofrer alterações, implicando em alguns casos aulas nocturnas

As próximas semanas serão um “momento de aprendizagem”, até porque o próximo ano lectivo vai ser condicionado pela covid-19. “Enquanto não houver uma vacina, vamos ter que redefinir a actividade do ensino superior”, antecipa o presidente do CCISP. As medidas de higiene e distanciamento agora aplicadas deverão manter-se e o ensino vai manter uma forte componente à distância.

Imunidade testada no Porto

Alunos e professores da Universidade do Porto vão ser parte de uma experiência-piloto de aplicação de testes serológicos. Aquela universidade anunciou, esta quarta-feira, a disponibilização gratuita deste tipo de exames à sua comunidade académica – incluindo o pessoal não-docente –, de forma a avaliar a sua capacidade de gerar anti-corpos à covid-19 antes do regresso às actividades presenciais.

O MCTES quer que essa experiência sirva de base a uma iniciativa para alargar estas provas a todas as instituições de ensino superior (as universidades ainda não apresentaram os seus planos de reabertura). O ministro Manuel Heitor tem estado a negociar essa solução com o reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira. Os dois responsáveis devem reunir-se na próxima semana. Os testes avançarão no início do mês de Maio no Porto. A tutela quer estendê-los às restantes universidades e politécnicos nas semanas seguintes, caso os resultados sejam promissores.

Esta quarta-feira, numa entrevista ao Observador, o ministro da Ciência e do Ensino Superior já tinha antecipado que os testes serológicos podem ser um dos “elementos de confiança” que as universidades e politécnicos podem dar à população antes do regresso às aulas práticas, nos próximos meses.

À agência Lusa, o reitor da Universidade do Porto afirmou que nas próximas duas semanas, a instituição vai avaliar vários testes serológicos, por forma a escolher um, cuja “confiança seja elevada”. Depois da validação, os testes serológicos vão estar disponíveis, de forma gratuita, para todos os docentes, pessoal não docente e estudantes que necessitem de retomar as actividades presenciais nas instalações da universidade.

“Só os estudantes que tem necessidades comprovadas, como trabalhos práticos, laboratoriais ou estágios é que poderão fazer os testes, os que estão em casa, nesta fase, ficam foram deste trabalho”, referiu, acrescentando, no entanto, que, entre funcionários e professores, os testes vão abranger “mais de quatro mil pessoas”. Nesse sentido, vai ser elaborado, em colaboração com o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, um calendário que, previamente, vai determinar os dias em que a comunidade académica pode fazer o teste serológico na sua unidade orgânica.

Samuel Silva - 22 de Abril de 2020, Público