Presidente do Politécnico de Santarém demite-se

José Potes colocou o lugar à disposição do conselho geral, que aceitou a sua saída. Novo processo eleitoral iniciado na próxima semana.

O presidente do Instituto Politécnico de Santarém (IPS), José Potes, demitiu-se perante o conselho geral da instituição nesta quinta-feira. O responsável colocou o lugar à disposição, o que foi aceite pelos conselheiros, numa reunião que tinha na ordem de trabalhos precisamente um pedido de destituição daquele dirigente, que tinha sido entregue na semana passada pelos presidentes de todas as escolas do instituto.

Os directores das escolas do IPS, que tinham apoiado José Potes quando este foi eleito para o cargo, há um ano e meio, perderam a confiança na liderança e fizeram chegar um manifesto ao órgão máximo do instituto em que exigiam a saída daquele responsável. Esses dirigentes colocavam “em questão a capacidade do presidente de reduzir o défice orçamental, sendo esta diminuição uma questão de sobrevivência do IPS”, deu conta ao PÚBLICO o presidente do conselho geral, Francisco Madelino, que convocou a reunião desta quinta-feira.

José Potes ainda tentou evitar a destituição, entregando, na sexta-feira passada, uma providência cautelar no Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria em que contestava os fundamentos do pedido de destituição que devia ser analisado pelo conselho geral e tentava suspender a convocatória. Até ao momento, o presidente do órgão máximo do IPS não recebeu qualquer notificação do tribunal, pelo que a reunião foi realizada como previsto.

O presidente do IPS acabou por mudar de postura na reunião desta quinta-feira e colocou o lugar à disposição do Conselho Geral, o que foi aceite pelos conselheiros. José Potes tinha sido eleito em Junho de 2018, numa decisão disputada, recebendo 11 votos dos membros do Conselho Geral contra 10 do seu opositor, Hélder Pereira. Tendo em conta a divisão então evidenciada no conselho geral e a mudança de posição dos presidentes das escolas, que antes tinham apoiado o presidente demissionário, a sua saída do cargo era o cenário mais provável.

O conselho geral do IPS decidiu também convocar uma nova reunião para a próxima quarta-feira, para dar início a um novo processo eleitoral, no qual será escolhido o sucessor de José Potes.

Plano de reestruturação

O PÚBLICO contactou a presidência do IPS para um comentário à decisão saída do conselho geral desta quinta-feira, mas até ao momento não conseguiu uma resposta.

No centro dos problemas internos do IPS está o plano de reestruturação apresentado ao Governo no final do mês passado, que prevê reduzir o balanço negativo em um milhão de euros, até ao final do ano. Dessa forma, o instituto espera resolver os problemas orçamentais que têm feito com que tenha chegado ao final dos últimos anos civis sem dinheiro para pagar os salários dos seus professores e funcionários, obrigando a tutela a fazer reforços extraordinários no seu orçamento. 

Entre os cortes previstos nesse plano encontra-se uma parcela de 300 mil euros destinada a recursos humanos. Para isso, a instituição terá que dispensar professores convidados de modo a reduzir a massa salarial. Este é precisamente um dos motivos da contestação interna. Ao mesmo tempo que prevê dispensar professores, o IPS não mexe na nova estrutura dirigente, criada no ano passado por José Potes, a que chamou Serviços Centrais. O desgaste na relação entre as cinco escolas do IPS e o presidente da instituição foi-se acentuando nos últimos meses.

O Politécnico de Santarém foi criado em 1979 e engloba cinco escolas superiores. As de Agrária, Saúde, Educação e Gestão e Tecnologia estão sediadas em Santarém, juntando-se a estas a Escola Superior de Desporto de Rio Maior. A instituição tem 4100 alunos inscritos, 250 docentes e 160 funcionários. Recebe do Orçamento de Estado cerca de 13 milhões de euros anuais, mas desde 2014, tem recebido uma média de 1,8 milhões suplementares face às dificuldades financeiras que enfrenta.

Samuel Silva - 27 de Fevereiro de 2020, Público