Rendimento dos recém licenciados é menor do que antes da crise

O rendimento mensal líquido dos jovens licenciados está, em termos reais, abaixo dos valores de 2008. O prémio salarial do ensino superior também caiu e o canudo perdeu mais de metade do valor. A informação é avançada pelo Expresso, que analisou dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística.

Nos últimos anos a economia tem crescido na casa dos 2% e o desemprego tem recuado, estando agora perto dos 6%, mas para os recém licenciados tal não se tem traduzido em melhores ordenados. Em média, levam agora para casa menos do que os jovens acabados de formar levavam em 2008, antes da crise.
Os cálculos do Expresso “mostram que o rendimento médio mensal líquido dos trabalhadores por conta de outrem (TCO), com ensino superior e até aos 24 anos de idade ainda está longe de recuperar do tombo sofrido durante os anos negros da crise”. Em 2008, um jovem recém-formado ganhava, em média, 793 euros líquidos mensais.
Um rendimento que caiu para apenas 592 euros em 2013. De então para cá, este salário tem vindo a recuperar, mas continua 8,4% abaixo do pré-crise. Se a análise levar em conta a inflação, para avaliar a evolução do poder de compra destes jovens qualificados (até aos 24 anos de idade), a perda acentua-se. O salário actual de 726 euros líquidos por mês traduz uma quebra de 18,2% em termos reais face a 2008, aponta o semanário.
Citado pelo Expresso, João Cerejeira, economista e professor da Escola de Gestão e Economia da Universidade do Minha, afirma que com o processo de Bolonha se assistiu a um “aumento significativo” do número de licenciados no mercado de trabalho, o que teve repercussões directas no preço do trabalho qualificado, puxando para baixo os salários”.
Num cenário de crise e de desemprego elevado, muitos recém licenciados passaram a desempenhar funções antes exercidas por profissionais menos qualificados. “Para as empresas, com o nível de remuneração praticado, tornou-se mais rentável contratar licenciados”, explica o economista, que alerta que esta depreciação remuneratória pode manter-se durante muito tempo. “Os estudos mostram que quem entra no mercado em período de crise viverá os efeitos dessa crise pelo menos durante duas a três décadas, senão mesmo toda a sua carreira”.
A desvalorização salarial dos jovens mais qualificados tem reflexos no prémio remuneratório do ensino superior. Segundo o Expresso, em 2008 um TCO até aos 24 anos ganhava, em média, mais 51% do que um trabalhador na mesma faixa etária que tivesse apenas o ensino secundário.
Pouco mais de uma década depois, esse mesmo prémio reduziu-se para menos de metade. É agora de 21%. Reflexo do aumento da oferta de profissionais mais qualificados no mercado mas não só, segundo João Cerejeira, que fala também entre diferenças cada vez maiores entre áreas e níveis de formação superior.
“Aquilo a que temos assistido é a uma crescente desigualdade dentro do ensino superior em matéria de potencial remuneratório. Há uma desvalorização salarial das licenciaturas, mas um aumento do valor de mercado associado aos mestrados e pós-graduações”.

Jornal de Leiria | 12.12.2019