Porto é o distrito onde é mais difícil entrar no ensino superior

Estudantes precisam de ter uma média de acesso de, pelo menos, 14 valores para terem garantia de entrar no ensino superior, mostra estudo que é apresentado nesta sexta-feira numa conferência internacional do think tank Edulog.

Os estudantes que vivem no distrito do Porto são aqueles para quem é mais difícil entrar no ensino superior, revela um estudo do Centro de Investigação em Políticas do Ensino Superior (CIPES), que é apresentado nesta sexta-feira. Na região de Lisboa também há um número elevado de alunos que se candidatam e não conseguem colocação, mas a situação é mais evidente na segunda cidade do país, pelo facto de a rede pública ser mais reduzida e de haver um grande número de candidatos provenientes de regiões vizinhas, como Braga e Aveiro.

Os estudantes do Porto representam 26,1% de todos os que não conseguiram colocação no concurso nacional de acesso, entre 2012 e 2018. Já os alunos do distrito de Lisboa representam 33,9% de todos os que não foram colocados numa instituição pública de ensino superior. Apesar de Lisboa apresentar uma percentagem superior de candidatos que ficam fora de uma universidade ou politécnico, a proporção de alunos excluídos é superior no Porto, dado que o distrito tem menos população – a área da capital tem quase mais um milhão de habitantes.

Nas duas áreas metropolitanas, “o número de estudantes que terminam o secundário é superior ao número de vagas oferecido”, explica Orlanda Tavares, investigadora do CIPES, que realizou este estudo, juntamente com Carla Sá e Cristina Sin. Este facto torna o acesso ao ensino superior muito concorrido nessas regiões.

A situação é, porém, “mais visível no Porto”, desde logo porque tem menos oferta pública – na rede pública, apenas a Universidade do Porto e a o Politécnico do Porto estão aqui sediados, ao passo que Lisboa conta com três universidades (Universidade de Lisboa, Universidade Nova e ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa) e ainda um instituto politécnico. Além disso, os estuantes portuenses têm a pressão acrescida de concorrerem com colegas vindos de regiões vizinhas, nomeadamente dos distritos de Braga e Aveiro, que, ao se candidatarem às duas instituições públicas da região, fazem aumentar ainda mais a competição por estas vagas”, aponta Orlanda Tavares. 

As investigadoras confirmaram que os estudantes portugueses são particularmente imóveis quando têm que concorrer ao ensino superior. Isto é, candidatam-se preferencialmente para estudar em instituições mais próximas das suas áreas de origem (ver entrevista). Fruto dessa realidade, os candidatos do distrito de Leiria são os que têm menor probabilidade de ingressar no sistema universitário, porque simplesmente não há universidade: “Entre as regiões com os institutos politécnicos mais selectivos (Porto, Lisboa, Coimbra e Leiria), Leiria é a única região onde não há alternativa universitária pública.”

O estudo Candidaturas ao ensino superior português: quem fica de fora e quem entra? parte de uma amostra de 330 mil estudantes. Ou seja, todos os que se candidataram ao concurso nacional de acesso ao ensino superior entre 2012 e 2018. Os resultados dessa investigação são apresentados nesta sexta-feira, no Porto, durante uma conferência internacional que está a ser promovida desde esta quinta-feira pela plataforma Edulog, o think tank sobre Educação da Fundação Belmiro de Azevedo.

De acordo com o estudo, os alunos que não conseguiram entrar no ensino superior público nos últimos seis anos, concorreram com uma nota média de 13,2 valores. Ou seja, para entrar no ensino superior, “um aluno tem que ter uma média acima de 14 valores”. Esse valor varia de curso para curso e não é suficiente para aceder às formações mais concorridas. Os alunos podem também entrar no ensino superior com médias inferiores, se se candidatarem a cursos que têm notas de ingresso mais baixas. Mas uma média de 14 valores é aquela que garante “alguma segurança” no sucesso da candidatura, aponta Orlanda Tavares.

Este trabalho do CIPES foca-se numa realidade que tem sido pouco abordada na investigação sobre ensino superior: quem fica de fora das universidades e politécnicos. Os resultados mostram ainda que são os alunos que preferem cursos nas áreas de Ciências Sociais, Comércio e Direito que “têm mais dificuldade em conseguir um lugar”. Estes estudantes representam 47,4% do total de não colocados, contra 32,5% que é o seu peso no total de candidaturas. A outra área mais competitiva é a da Saúde, que representa 15,7% dos alunos não colocados no concurso nacional de acesso nos últimos seis anos.

Samuel Silva - 6 de Dezembro de 2019, Público