Desigualdades económicas continuam a limitar sucesso dos alunos

Alunos mais desfavorecidos têm piores resultados e são dos que têm menos expectativas de vir a concluir um curso superior, revela o PISA 2018
O estatuto socioeconómico dos alunos continua a ser uma variável determinante no sucesso académico e o seu efeito é maior em Portugal do que no conjunto dos países da OCDE. Pelo menos no que respeita aos resultados apresentados na literacia em leitura, o domínio que esteve em foco no PISA de 2018, a maior avaliação internacional em matéria da educação, conduzida de três em três anos.
De acordo com as contas da OCDE, os estudantes com melhores condições em casa tiveram em média mais 95 pontos do que os seus colegas de estratos mais desfavorecidos. Sendo que 13,5% desta variação é explicada pelo estatuto social, cultural e económico das famílias. Há países onde o valor é mais alto (17% na Alemanha, por exemplo), mas noutros a desigualdade acaba por não se refletir tanto, como é o caso da Estónia (6%).
Outro indicador que permite confirmar as diferenças de desempenho é a percentagem de alunos resilientes, ou seja, aqueles que pertencem a famílias mais desfavorecidas e cujos resultados se colocam entre os 25% mais altos. Por outras palavras, são os alunos que contrariam o peso das condições socioeconómicas. Em Portugal, acontece com 10% dos jovens que fizeram o PISA, quase igual à média (11%) da OCDE. "A desvantagem [económica] não é um destino", conclui o relatório, admitindo, no entanto, que continua a ser um "forte indicador de um melhor desempenho dos alunos a matemática e ciências, em todos os países".
Mas há ainda outro dado interessante. Em Portugal, a falta de recursos humanos e materiais reportada pelos diretores das escolas é maior do que a média na OCDE. Ainda assim, conclui o relatório, essas falhas não afetam mais as escolas inseridas em ambientes mais desfavorecidos.
Diferentes expectativas
E não só o impacto se faz sentir nos resultados, como acaba por condicionar as ambições dos jovens. Portugal é mesmo um dos países em que a diferença de expectativas sobre o percurso escolar é mais acentuada entre quem tem muitos e poucos recursos.
Os números são claros: quase todos os alunos (93%) de meios com estatuto cultural, social e económico mais alto pretendem concluir o ensino superior. O número cai para 50% entre os que têm menos condições.
Isabel Leiria

Expresso Online | 3.12.2019