Tiveram médias de 16 a 18 e foram estudar Português, História e Filosofia

Carolina, Lara, César, Eva e João entraram neste ano na faculdade. Uns em Lisboa, outros no Minho. Podiam ter entrado em qualquer curso de Ciências com elevada empregabilidade, mas escolheram cursos das Humanidades, conscientes das dificuldades no mercado de trabalho, porque são as Humanidades que "nos definem, que nos ensinam a pensar e a agir"...

"São jovens, não pensam" ou "são jovens, não sabem ou não querem saber" são expressões que não encaixam nestes estudantes de Lisboa e do Minho. Eles pensam, sabem o que querem e decidiram o seu caminho, mesmo quando a realidade do mercado de trabalho lhes indicava outros destinos.

Eles foram os primeiros a entrar nos cursos que escolheram, Línguas, História e Filosofia. Fazem parte de uma minoria, e sabem-no. Eles entraram em cursos que não existem em todas as faculdades do país, e naquelas que existem as vagas não excedem as 79, à exceção de Línguas na Universidade de Lisboa, que abriu 211 na primeira fase de acesso. Mesmo assim, houve algumas que ficaram por preencher. Ao todo, foram lançadas para os três cursos 1200 vagas, 707 para Línguas, 347 para História e 146 para Filosofia. Nada comparável às lançadas para alguns cursos de Ciências, como Medicina e Engenharias.

Para Carolina, Lara, César, Eva e João, as Humanidades são o que são. Tão-só as ciências que nos ajudam "a ser pessoas", a "definir ideias e ideais, que "nos ensinam a agir". Por isso, todos defendem fazer parte de uma geração ativa que olha para o futuro". E eles próprios querem fazer a diferença e serem professores de Português, de História ou de Filosofia. Ou, quem sabe, escritores, historiadores, filósofos ou simplesmente quadros de uma empresa que os valorize.

Há quem lhes diga que sonham, talvez. Depois, "logo se vê", dizem, mas os professores destas disciplinas são perentórios ao afirmar que "a visão negativa das Humanidades tem de ser reconstruída". Isto em Portugal porque em outros países da Europa a realidade é bem diferente.

Carolina tem 18 anos e escolheu estudar Línguas e Literatura.

Na primária descobriu Matilda, no secundário, o Memorial do Convento...

Carolina Pires de Lima ainda pertence à geração Y, ao grupo dos millennials, como os definiu a sociologia mundial, pois nasceu ao bater do novo século, em agosto de 2001. Nestes 18 anos tem assistido à evolução do mundo tecnológico, dos e-books à Siri, mas Carolina poderia não fazer parte desta geração. Ela gosta do cheiro dos livros, desde pequena.

"Na escola tínhamos sempre uma hora livre depois do estudo para fazermos o que quiséssemos. Eu era das que procuravam sempre um livro", conta-nos à porta daquela que é agora a sua casa de aprendizagem, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde ingressou há três semanas no curso de Línguas e Literatura com média de 18,96.

Ao som dos desfiles das praxes aos colegas, conta a sua história e revela um pouco do seu eu. "Não me sentia muito atraída pelas praxes, sou mais reservada", ri-se. Português, História e Filosofia foram sempre disciplinas preferidas. Estava atenta, estudava, motivava-se com os professores, mas, também, para além dos professores. "Nem todos os professores foram motivadores, mas houve alguns de quem gostei muito e que me ajudaram a desenvolver o interesse por estas matérias."

Os pais deram-lhe uma grande ajuda, sempre gostaram de ler e sempre a incentivaram a fazer o mesmo. Por isso, não estranharam a opção no final do secundário. Ainda hesitou entre Filosofia e História, mas decidiu-se pelo estudo da língua, da escrita, da literatura, pois é aqui, nestas matérias, "onde tudo se cruza" e que se encontra. "Ajudam-me a ver o mundo de uma forma paralela ao que habitualmente se costuma ver. A escrita e as palavras ajudam-me a focar nas coisas mais pequenas, às quais, por norma, não prestamos tanta atenção, que não percebemos como são importantes, e que podem mudar tudo."

Aprendeu esta lição quando começou a ler. Na primária, lembra-se de um dos primeiros livros que mais a marcaram - Matilda, do escritor britânico Roald Dahl , publicado muito antes de ela própria ter nascido, 1988, mas que ficou para várias gerações. De tal forma que foi adaptado ao cinema, em 1996, com direção de Danny DeVito, ilustrações de Quentin Blake.

Ao todo, foram lançadas para os três cursos 1200 vagas, 707 para Línguas, 347 para História e 146 para Filosofia. Nada comparável às lançadas para alguns cursos de ciências, como Medicina e Engenharias.

No secundário, cresceu com o Memorial do Convento, de José Saramago. "Foi o primeiro livro que li dele, apesar de já ter uma ideia de como era como autor, e adorei. Surpreendeu-me muito a forma da sua escrita", confessa. É um dos livros que lhe ficam para a vida, mas outros se seguiram. E hoje fala de autores como Eça de Queirós ou Virgílio Ferreira e até de outros mais contemporâneos, como a italiana Elena Ferrante, que a conquistou com A Amiga Genial.

O curso de Línguas e Literatura foi opção por querer "aprender mais sobre escritores e sobre correntes literárias. "Este curso dá-me a oportunidade de abordar várias matérias, desde a História à Filosofia. E isso é importante para mim", admite. O querer saber mais também a levaram ao interesse pelas línguas. Começou aos 12 anos com o inglês, "percebi que conseguia entender o que os outros diziam e motivou-me ainda mais para o querer aprender", explica. Do inglês passou para o espanhol, depois para o alemão, que vai continuar a estudar na faculdade.

O poder da palavra, a interrogação da filosofia e o saber da história ajudaram-na a saber como há de atuar, como se há de relacionar com os outros, como "opinar, refletir e questionar, antes não o compreendia nem o fazia", admite.

"É isso que mostra o ativismo, sobretudo na defesa do clima. É uma geração que não está adormecida", afirma.

Espera que a faculdade a ajude a aprofundar algumas características, a pensar, a refletir e a aprender a olhar para o mundo. Do futuro espera que lhe seja possível decidir sempre de acordo com os seus interesses. Por isso, à pergunta: e a escrita como autora?, responde: "Já pensei nisso, mas tenho de trabalhar muito para conseguir arranjar uma forma de saber transmitir o que pretendo com significado, com diferença e que não seja só escrever por escrever."

Lara Teixeira tem um desejo: ser professora de Português.

O desejo de ser professora de Português

Lara Teixeira chegou à faculdade ainda com 17 anos. Só a 31 de dezembro fará os 18. Nasceu e cresceu em Chaves, mas o ingresso no curso de Estudos Portugueses levou-a agora até Braga, à Universidade do Minho.

Sobre esta escolha diz não ter tido muitas dúvidas. A avó materna foi sempre uma das suas maiores inspirações e integrou-a no mundo das letras. Depois foi sempre incentivada pelos pais, e quando chegou o momento de decidir falou com alguns professores que a ajudaram a desenvolver este interesse. E também a incentivaram. Confessa que ainda pensou em Direito, talvez tivesse mais hipóteses no mercado de trabalho, "mas não me identificava".

Uma das professoras disse-lhe que o curso que ela queria era o que tinha tirado, na sua altura com outra designação, e aí começou a pensar: porque não ser professora de Português? A começou a crescer sem medos, mas com a esperança de um dia poder acontecer. "Quero mesmo ser professora", remata, argumentando que este desejo "tem que ver com o querer passar para os outros o gosto pelo português". Para ela, assume, "o português nunca foi uma seca", mas também porque "os meus professores foram um exemplo para mim. Gostava muito de transmitir o que me ensinaram a outras pessoas".

Entrou na primária a saber ler e muitos lhe diziam que começou a ler livros muito avançados para a idade. Um dos que mais a marcaram foi o 3096 Dias, por Natasha Kampush, que conta a história do rapto e do sequestro da autora, mas a sua paixão é mesmo "a interpretação de textos. Transporta-me para outro mundo, ajuda-me a pensar e a ter uma opinião, ajuda-me a aprofundar e a querer saber mais".

Por agora, está a habituar-se a Braga, à faculdade, ao estar sozinha, a um mundo novo, mas desde pequena que aceita os desafios. O primeiro, desde que entrou na escola, foi o querer ter boas notas e "esforçar-me por isso". Agora, é concretizar este sonho, mesmo sabendo que vida de professor não é fácil e que "a empregabilidade também não". E assume: "Prefiro estar num curso de que goste, a empregabilidade logo se vê."

Lara entrou na faculdade com 16,4. Fala da importância da língua materna, da forma como muitos a usam e de como a sua geração trata a língua. Tem pena de que muitos jovens não se sintam motivados para o ensino do Português. Tem pena de que "muitos não vejam a magia do português e da literatura" e de que o curso onde está tenha apenas 30 alunos, mas acredita que um dia a situação mudará.

Um bom contexto de aprendizagem faz maravilhas

A presidente da Associação de Professores de Português, Filomena Viegas, acredita também que um dia a situação irá mudar. "É preciso valorizar estes cursos para que as empresas comecem a aceitar os licenciados e a incluí-los nos seus quadros", argumenta.

A professora, já reformada, defende que "a língua materna é um território privilegiado, pois consegue abarcar áreas comuns a todas as outras áreas. É, por excelência, a área que mais contribui para o desenvolvimento pessoal e para a formação da cidadania".

Por isso, "a intervenção de pessoas com formação académica na área da língua portuguesa é importante em todas as áreas, nomeadamente nas empresas. Estes licenciados poderiam dar apoio ao uso da língua na comunicação com os outros e isto poderia mudar a empregabilidade".

Pela sua experiência, Filomena Viegas admite que muitos alunos podem achar o ensino da língua materna difícil, mas explica que a motivação para o estudo não pode vir só do professor e do aluno, tem de passar também pelo contexto. "Não se pode colocar o ónus nem só nos professores nem só nos alunos. A motivação surge também do contexto em que se ensina. Um bom contexto de aprendizagem pode fazer maravilhas,"

César Miranda: "A História ajudou-me a definir ideias, ideais, prioridades, e a saber por que lutar."

"A história é a base de tudo"

César Miranda não vê o seu futuro fora da História. Foi o curso que escolheu e onde entrou com média de 18,86, na Universidade do Minho. Aos 18 anos, o estudante nascido em Barcelos afirma: "A história é a base de tudo."

César fez o percurso de estudante na Escola Básica Gonçalo Nunes e na Secundária Alcaide Faria. O seu interesse pela disciplina começou cedo, "no 5.º ano, quando comecei a dar a matéria mais a sério, não pelas matérias em si, mas pela influência que tinham em outras matérias".

E à provocação que lançamos: mas não era uma seca?, ele ri-se e responde: "Acredito que para alguns alunos possa ser uma seca, mas para mim nunca foi." Porquê?, perguntamos. A resposta sai pronta: "Porque a História é a ciência que nos permite estudar o passado para entender o presente e projetar o futuro." Foi o estudar História que "me abriu novos horizontes, que me permitiu perceber a realidade e fazer escolhas que, de certa forma, mudaram a minha vida e a forma como a encaro".

Mas também adorava Geografia A, como complemento à História, e Psicologia, que "me ajudou a perceber a mente humana", mas nunca tal o desviou do caminho de ingressar na curso em que está, para, quem sabe, um dia vir a ser investigador, historiador ou professor universitário.

Não tenho dúvidas de que para a história mundial ficará tudo o que se tem feito no combate às alterações climáticas.

As poucas saídas profissionais não o assustam. Aliás, como jovem, diz-se mais preocupado com a realidade mundial de hoje, com "a emergência do nacionalismo, com a afirmação da extrema-direita, com a ameaça constante do terrorismo e com as alterações climáticas. Não tenho dúvidas de que para a história mundial ficará tudo o que se tem feito no combate às alterações climáticas".

Tem um fascínio especial pela história contemporânea, pois "destaca tudo o que surgiu no mundo mais recentemente - como os regimes totalitários, as guerras mundiais, o colonialismo - e que não se deve repetir". Assinala que para ele "foi essencial estudar a forma como se afirmaram os regimes autoritários, a importância que tiveram e as suas consequências".

Fala de Portugal, do período pós-5 de Outubro, por ter sido algo muito importante para o país. "Passámos de um regime monárquico para o republicano, mas considero que esta rutura não foi bem aproveitada pelo Estado Novo. Quando falo sobre isto tenho a sensação de que muitas pessoas não têm a noção da importância."

Foi esta dimensão política da história que fez de César um jovem atento e informado, porque "o passado traz-nos ao presente e sendo um estudante de História tenho obrigatoriamente de estar informado". E, como cidadão, "sente-se no dever de ter um papel ativo. Temos o direito de mudar, de defender e de manifestar os nossos pontos de vista e nunca sermos cidadãos passivos".

Foi isso que o levou a votar nas últimas eleições. Informou-se e fez a sua escolha e dos resultados diz que algo ficará para a história. Pelo menos, como "o momento em que o Parlamento se abriu à diversidade de partidos depois do 25 de Abril".

César é dos jovens que nunca pensaram muito em sair do país. "Pretendo ficar por aqui. Quero ensinar História, pensar num caminho para a carreira universitária...", ri-se, porque História foi a disciplina que o ajudou "a definir valores, ideais, prioridades e o ensinou a saber sobre o que vale a pena lutar".

Eva Colwell quer fazer Arqueologia e História é a base de tudo.

História e Arte são a simbiose perfeita

Eva Sousa Colwell, de 18 anos, estuda a quilómetros de distância de César mas também é das recém-universitárias que acreditam na história como opção para o futuro. Entrou no curso da Faculdade de Letras, da Universidade de Lisboa, com 18,7. Antes passou pelo curso de Artes da Escola António Arroio - que lhe deu um método de ensino mais prático e lhe desenvolveu o processo criativo - fez Fotografia, mas o que quer mesmo é fazer Arqueologia.

Eva tem ascendência inglesa por parte do pai, ainda pensou em ir estudar para Edimburgo, mas escolheu ficar em História. "Era das disciplinas que mais gostava, a par da Astrofísica", mas não consegue mencionar o momento que este interesse surgiu pois sempre foi habituada a discutir estes temas em casa. "Em minha casa sempre houve um espaço de debate, desde a física à história."

Confessa: "Sempre gostei muito de história contemporânea, sei que esta é a resposta que a maior parte das pessoas do curso dá, mas isso é porque o passado nos permite perceber todos os grandes problemas políticos que hoje existem, e foi um pouco o perceber este lado político da história que me levou a interessar-me ainda mais."

Ela era a aluna que explicava História aos colegas. "Gostava de ajudar até porque conseguia traduzir as matérias em termos comuns, para que se percebesse melhor." Assume que se alguns colegas vinham ter com ela, era porque "achavam os professores aborrecidos, mas é preciso passar um pouco essa barreira para perceber que a matéria em si é realmente interessante".

Provocamos mais uma vez: não era uma seca? "Não. Como é que se pode achar que é uma seca algo que nos vai explicar tudo o que achamos que não é uma seca? Se achas que a política, a economia, a física e outras coisas mais não são uma seca, então como podes achar que história é uma seca? É a base de tudo", argumenta a rir.

Eva é uma jovem que se define sarcástica, criativa, multifacetada, um bocado teimosa. Alguém que não tem outra maneira de definir história senão como "a ciência que nos dá o entendimento da evolução do ser humano, desde a escrita à expressão artística".

Para ela, História e Arte são a simbiose perfeita e nunca pensou que lhe cortassem as possibilidades de emprego. "Queria fazer alguma coisa de que gostasse e não pensar: 'Meu deus, não vou fazer porque não vou arranjar trabalho.' Se fosse assim teria de ir para Medicina ou Engenharia... e isso não."

Um licenciado em História pode ajudar na formação de cidadania dos jovens

É este interesse demonstrado pelos alunos que não têm correspondido às políticas curriculares. História foi das disciplinas que mais mudanças têm registado. Já foi só uma disciplina juntamente com Geografia A, já viveu a redução da carga horária e continua a experienciar o aparecimento de novas disciplinas. Neste ano já foi anunciado que haverá uma nova disciplina no 12.º ano: História, Culturas e Democracias, que até já foi criticada pelo ex-ministro e ex-presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, que veio dizer que se serve da História para cumprir um objetivo "militante e não científico".

Para o professor de História José Geraldes Santos, da Escola Secundária Inês de Castro, em Vila Nova de Gaia, há, de facto, algo que tem de mudar, porque, nos últimos anos, "houve um retrocesso nas opções que se fizeram em relação à História".

O professor argumenta que a maior pressão para os alunos que gostam da disciplina é a falta de saídas profissionais. "Investigação quase não existe em Portugal e a via do ensino também não está na fácil", mas sublinha que um licenciado em História poderá ter lugar no ensino ou em outras áreas, como empresas. "Um licenciado em História pode ajudar na formação de cidadania dos jovens. A história tem uma faceta ligada à política, à filosofia, à cultura, que é importante."

O professor do 12.º ano admite que a disciplina é difícil e que tem mesmo de ser estudada. Na sua escola há apenas dois professores estagiários de História. Ele tem apenas 40 alunos e deixa um alerta: "Algo tem de mudar."

João Pedro Silva entrou em Filosofia, é a disciplina de que mais gosta, mas não foi a sua primeira opção.

Filosofar, pensar e agir

E de Filosofia? O que há a dizer? Que uma jovem com média de 19,4 foi a primeira a entrar no curso da Faculdade de Letras, da Universidade de Lisboa, mas que acabou por não efetuar a matrícula. Não se sabe porquê, mas tal pode explicar muita coisa, nomeadamente o facto de ser um dos cursos com menos empregabilidade e menos vagas - apenas 43 neste estabelecimento de ensino e 146 a nível nacional.

É esta visão negativa, de que "as Humanidades são um beco sem saída ou um passo para o desemprego, que a professora de Filosofia Sónia Múrias, da Escola Secundária Joaquim Ferreira Gomes Alves, em Valadares, diz que "tem de ser reconstruída". A filosofia ensina-nos a pensar e isso deveria ser valorizado, nomeadamente nas empresas e até na política.

João Pedro Silva foi o primeiro a entrar em Filosofia na Universidade do Minho, com 16,6, e concorda com esta perspetiva. Mas confessa que o curso não foi a sua primeira opção. "Foi a terceira, escolhi primeiro Psicologia e Ciências Forenses, sempre me davam mais empregabilidade".

João nasceu em Braga. Ficou em casa ao entrar na Universidade do Minho. Diz que escolheu Filosofia porque sempre foi das suas disciplinas preferidas. Aliás, assume, "eu era o gajo da Filosofia. Era comigo que vinham ter antes dos testes para ajudar a estudar. Gostava mesmo de Filosofia".

Fascina-o o facto de ser uma ciência que existe há tantos milhares de anos e que ainda tem questões sem resposta. Por exemplo, a questão da ética e da moralidade. "Há várias teorias, mas a qualquer momento pode haver alguém que surja com uma nova e ficamos com uma perceção completamente diferente da que temos hoje."

"Estamos na era das máquinas, da tecnologia, e daqui a uns tempos a ética não se vai aplicar só ao ser humano, mas também às máquinas, temos de pensar até onde é que queremos ir, até onde é que queremos que as máquinas façam as coisas por nós."

Para ele, a ética é uma das grandes questões da sociedade. "Estamos na era das máquinas, da tecnologia, e daqui a uns tempos a ética não se vai aplicar só ao ser humano, mas também às máquinas, temos de pensar até onde é que queremos ir, até onde é que queremos que as máquinas façam as coisas por nós."

Diz que foi a filosofia que o ajudou a formar-se na pessoa que é hoje. "A filosofia dá-nos algo muito importante, o sabermos quem somos, como nos devemos comportar, agir, reagir e pensar. Isto vem antes de qualquer outra coisa." E acrescenta: "Não adianta saber todos os teoremas matemáticos e depois não conseguir sair à rua e não saber o que devo ou não fazer por mim." Por isso, arrisca dizer que a filosofia "é aquilo que nos pode ensinar a ser uma melhor pessoa".

Como estudante de Filosofia, uma das suas preocupações é o facto de as pessoas esquecerem cada vez mais que o ser humano funciona bem em comunidade. "As pessoas estão preocupadas consigo próprias, esquecem os outros e o que melhor para todos."

Uma dimensão humanista que vem da Filosofia, que, acredita, "pode moralizar mais as pessoas".

João ainda não sabe o que esperar do futuro. Tudo depende de como correr o curso em que entrou há três semanas. À partida sabe que gosta mais do curso de Filosofia do que de Psicologia. Se continuar, espera chegar ao mestrado ou ao doutoramento, para poder ensinar outros jovens.

Ana Mafalda Inácio - 23 Outubro 2019 —  Diário de Notícias